"Queria tanto te contar como eu gosto quando você fecha os olhos e fica sorrindo até quase dormir. E a gente vai falando baixinho, baixinho, até que viramos em braços e pernas cobertos de respiração. E eu tenho tanto medo, mas tanto, que você acorde sem que eu veja e abra os olhos e não se encontre em meu ombro que, de golpe baixo, oferece apoio aos seus pensamentos quase sempre tão cansados. E se você levantar e se me deixar ali, com os lábios de saudade, como faço para ocupar o espaço que aqueceu minha cama, que me devolveu a vida, que me mostrou os passos para os dias que meus olhos mutilam? Gosto tanto e tenho tanto medo desse seu dormir desamparado, independente, ocupado por tantos laços que não os meus. E eu fico repetindo, assustada, que você só acorde quando minha mão estiver abrigada em seu cabelo, quando minha boca tiver repouso na sua pele, quando a minha vida, desesperada, acalmar na sua essa minha noturna espera".
Caio Fernando Abreu
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